A cultura do cancelamento no trabalho e a extimidade nas redes sociais

Até quando o excesso de posicionamento nas redes sociais pode ser benéfico?


Temporário ou definitivo, necessário ou excessivo, o cancelamento é sempre uma possibilidade para quem marca a sua forma de pensar ou de ser, nas redes sociais. Tem sido uma estratégia recorrente para punir aqueles que causaram algum tipo de estranheza ou repúdio com suas manifestações públicas, por mais questionável que seja. Mas o que fazer quando o ato de ser cancelado respinga no mundo corporativo, ameaçando empregos e carreiras?

Qual é o limite de exposição nas redes? Como expressar opiniões sem correr o risco de soar preconceituoso e comprometer a sua vida profissional?

Derivada do politicamente correto, de alguns anos atrás, que apontava para a sensibilidade das questões de gênero, classes e etnias, a cultura do cancelamento acabou se tornando uma política de tolerância zero com quem é racista, homofóbico, misógino ou pratica algum tipo de injúria contra o que a sociedade considera correto e justo socialmente. E o que antes era restrito às personalidades, celebridades ou marcas que demonstram atitudes inadequadas, pode ocorrer com qualquer mortal que se exponha virtualmente.

O que começou nos Estados Unidos com o movimento #metoo para defender minorias e rapidamente se espalhou pelo planeta, ganha outra perspectiva, no mundo corporativo, porque não se trata de as empresas cancelarem um influencer machista ou ‘desfazerem uma amizade’ com o colaborador controverso.

Mesmo não intencionados, os funcionários que se pronunciam publicamente comprometem a imagem institucional se fizerem declarações duvidosas em posts e vídeos feitos no ambiente profissional, ou estiverem portando o crachá da empresa, por exemplo. Fora do trabalho, algumas de suas posturas também podem afetar a reputação das empresas, quando existe alguma correlação com a identidade da organização para a qual trabalham — além, é claro, de prejudicar a sua própria imagem e o futuro de sua carreira. Muitos casos têm sido julgados pelo Tribunal Superior do Trabalho e a demissão é inevitável quando há risco para a honra do empregador.

Independente disso, a exposição nas redes merece considerações e cuidados. A extimidade, termo cunhado pelo psicanalista francês, Jacques Lacan, para definir o ato de tornar público o que é individual ou íntimo, tende a ser muito bem acolhida pelas redes sociais. O fenômeno, porém, aumenta o nível de exposição e a vulnerabilidade das pessoas e consequentemente eleva também a probabilidade dos linchamentos virtuais.

Na vida pessoal ou profissional recomenda-se o bom senso sempre que houver a o desejo de compartilhar opiniões. Se a vontade de se posicionar sobre algo for imperiosa ou necessária, é interessante analisar e selecionar o público-alvo e qual é o conteúdo dos posts e mensagens que queremos transmitir — principalmente com relação a questões políticas ou delicadas que dão margem a interpretações. Assim, não se corre o risco perder o foco, o emprego ou ser cancelado socialmente.